CHSA: um Portal para outro Tempo e Espaço por Alessandra Miyazaki*

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Porque se pratica hipismo no Clube Hípico de Santo Amaro?

Vivemos na chamada Modernidade Líquida, termo cunhado pelo sociólogo Zygmund Bauman para designar as mudanças sociais que ocorrem a nível global, decorrentes de novos paradigmas tecnológicos. As redes sociais e o uso compulsivo do celular não transformaram somente a nossa forma de nos relacionar.

A humanidade sempre captou a realidade com base em dois parâmetros, tempo e espaço. Construímos o mundo sobre estes dois pilares. Mas hoje, na realidade virtual, o espaço é imaterial. Tempo é uma construção social, que passa a receber novos significados, a medida em que o espaço se converte em um conceito irrelevante.

CHSA: um oásis verde de  14 alqueires encravado na zona sul da capital paulista
CHSA: um oásis verde de 14 alqueires encravado na zona sul da capital paulista

Vivemos em um mundo onde todas as possibilidades estão disponíveis. O que pode ser exaustivo…. Ao mesmo tempo em que a população global não deseja que o mundo volte a ser como antigamente, mais e mais pessoas buscam refúgio em pilares tradicionais . A hípica é instrumentalizada como um destes escapes: um espaço para nos ancorarmos, pelo menos por algumas horas, na família, natureza, amigos.

Estudo recentemente realizado com membros do CHSA informa que a hípica é significada como um portal, que transporta seus membros para outro tempo e espaço. O contemporâneo e urbano é contido do lado externo dos muros. A arquitetura que transita no colonial, as palmeiras imperiais, o cheiro de mato, nos transportam para um tempo e espaço onde o ritmo é ditado pela natureza.

Dicotomias se aproximam, paradoxos e contrastes se harmonizam. Fora da hípica, o relógio é sinônimo de estresse. Dentro, o tempo mecânico, marcado pelo cronômetro das provas é relatado como relaxante.

A cidade fora dos muros é percebida como perigosa e hostil. Mas na hípica, todos relatam sentirem-se seguros…praticando um esporte de risco. O medo real e físico, é minimizado quando comparado ao medo psicológico de viver no espaço urbano.

Familiaridade adquire várias nuances neste espaço. A hípica é um espaço para famílias. Familiares trabalham na hípica. Recém conhecidos tornam-se rapidamente familiarizados, puxam assunto sobre os cavalos… um comportamento peculiar, em uma cidade onde a maioria de seus habitantes não cumprimenta seu vizinho no elevador.

Em resumo, o paulistano precisa de um tempo. E de espaço. É exatamente isto que o Clube Hípico de Santo Amaro proporciona a seus membros.
*Alessandra H. V. Miyazaki é professora de Marketing pelo MBA da FGV

Adendo:

Resumo do trabalho científico que realizei sobre a Escola de Equitação do Clube Hípico de Santo Amaro

“Não foi fácil resumir 26 páginas. Tomei apenas o ponto principal do artigo: a questão do tempo/espaço, a hípica como um respiro para os problemas contemporâneos e urbanos. Outros pontos bem bacanas que foram levantados no estudo foram a questão da memória (passado histórico da hípica) e diversidade (espaço onde convivem várias classes sociais, esporte que iguala a questão do gênero, convivência com pessoas com deficiência em função da equoterapia, aclimatação de estrangeiros).”

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